domingo, 29 de julho de 2007

Atão 'tás mal?

É mesmo assim. Cada vez que alguém cai, que choca com alguma coisa, que é atropelado, que é atacado por uma caganeira, que vomita por causa da besana, que nos ofende, que é brutalmente espancado, que concorre para professor titular, que falha, por milímetros, a cavidade vaginal com a sua anfractuosidade sexual, num momento de cambio de tercio, ou numa outra situação que implique a mudança brusca de condição física, psicológica ou psíquica dum indivíduo que se encontre nas imediações, nos leva logo a inquirir: “Atão ‘tás mal?”
Mesmo que estejamos a cagar para a situação por não conhecermos o mamífero de lado algum ou por não o podermos ajudar por qualquer motivo. Até mesmo que nem estejamos interessados em ajudar. Mas diz-se sempre. Fica bem, fica sempre bem.
Na maioria das vezes nem estamos à espera de resposta, ou pelo menos de uma resposta consciente, socialmente e/ou civilizadamente correcta.
Ora agora pensem lá bem: vai um gajo da Aldeia Grande (Lisboa) ou duma outra aldeia vizinha, por exemplo, nestas noites de festa (nestas ou nas do ano passado) a uma festarola de um barzinho de uma qualquer província (que até pode ser do Baixo Alentejo, digo eu) e, do alto da sua sapiência, decide fazer merda lá dentro (ou abrir uma lata de gás mostarda, por exemplo), no meio dos indígenas, seus familiares e amigos. O que é que lhe pode acontecer? Quase nada. Quase, eheh. Pois, não vão matar o gajo, né?! Até nem vale muito a pena.
Mas pensem. Quase nem tem tempo de ouvir dizer, até ao fim “Atão ´tás-te a sentir mal de cabeça pra cima? ´Tás com saudades do hospital?”. Transforma-se logo, quase de imediato, em saco de boxe. Depois é a confusão e deixa de ver e ouvir, praticamente. Dá-se um arraial de porrada que até cria bicho. Tudo quer molhar sopa. Deixam-no que nem uma rodilha.
Depois é o caralho. Guardas, ambulâncias, bebedeiras.
Quando o conseguem resgatar daquela manifestação de carinho e sentar quase confortavelmente numa ambulância, há um dos socorristas, que por acaso até era ali da zona, que lhe pergunta “Atão ‘tás mal?”. Fica beeeem. Fica.
Claro que não poderia estar à espera que o infeliz, já com alguns fluidos a menos, lhe respondesse “Nããã, ‘tá tudo bem, ‘Tou aqui mais fresco c’uma alface…”.

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